28 de fevereiro de 2008

Notícia de horas mornas



Essas pessoas que passam
a passos violentos,
passam a passear
na porção solitária que lhes cabe
da velocidade-luz
(desse enorme passado coletivo).
Primam pela primavera
ainda que estanque,
ainda que ralinha sob os pés do passarinho.
Fitam e invejam a calmaria que floresce
nos bancos das praças que,
mesmo vazios,
ainda escutam o cochicho baixo
das pedras namoradeiras.


8 de fevereiro de 2008

Nos meus braços



Aí foi onde te deixaram,
nua e imóvel num altar de baixa madeira,
onde te possam ver os plebeus e as vielas vazias.
Fizeram de ti meu bem,
o fruto mascarado do legado silencioso e capital.
O desenho do pecado,
o fracasso dos impérios e dos calcanhares.
E se no sono tropeçares ultrajada e solitária,
vão te beliscar, leve na pele,
para que não te esqueças do teu crime original,
da beleza que carregas
e por ela mereceste o exílio.
Que por ela e para ela morreram homens,
em loucura e devaneio, cegos e atormentados
mirados na carne pura,
forma, mulher, seio.
Não tens culpa amor, é verdade.
Teu lugar não é aí, na comédia escandalosa
dessa farsa vergonhosa
que tramaram contra ti
(esses anjos invejosos).


6 de fevereiro de 2008

Altruísmo



Entre você e eu,
é melhor preferirmos qualquer coisa
que não seja nós mesmos.


5 de fevereiro de 2008

Nove milímetros



Quantas vezes olhei e resolvi que aquele cenário,
aquela moldura,
ficariam intocados.
Seriam diamantes na retina.

E mesmo ali, decidi parar o tempo,
como se ao comando da minha voz tudo se fizesse pedra,
tudo parasse em vidro imóvel,
no segundo que eu quis.

Nesses muitos momentos
em que me capturei Cronos frustrado;
nesses mesmos momentos
em estátuas prometidos...

É aí, no sebressalto quase assustador
em que tropeçam esses ditos momentos
quando se vão,
que se reforça a idéia incisiva de que
ainda é impossivel mensurar
o calibre das amenidades.


Figura de linguagem



Os pormenores da vida são fragmentos da alma.
Metaforicamente.