19 de janeiro de 2010

Estrofe maior



Sempre haverá dias de sol
a colorir os dias de medo.
Não há nada de novo
- não há nenhum segredo.


Poesia de Sade



Tenham dó do poeta, ó almas avarentas.
Ele que do mais tenebroso pranto subtrai o magma
que vos queima os olhos.
Vós que vos alegrais estridentes,
suspirantes e maravilhados,
tende piedade do arlequim amargo,
que de pena em punho vomita versos de samaritana dor.
Silenciai-vos ante a letra rude que vos bate à face,
pois que esta é a comiseração plena que o conservará poeta.


4 de janeiro de 2010

Esfinge em branco e preto



Pela sorte que me vale,
seja tímida ou extensa,
eis aqui o que se pensa
do enigma do amor:

Não há tempo que o cale
nem palavra que o vença.
Por afago ou por ofensa,
sobrepor-se-á à dor.


Marina



Do azul perpétuo reviveu-se o pranto,
que da pedra rasa de amarelo manto
me carrega para o cais.

Da primeira chuva que recolhe o santo,
derramada morna e com singelo canto
derradeira que me leva e traz,

Sacrifica tanto
do salgado encanto
que de mais a mais
já não satisfaz.