11 de novembro de 2009

Meu novembro



Já não escrevo mais do amor.
Escrevo do que sobra,
depois que ele
acontece.


Pele



Sinto falta dela toda,
e dos olhos.
Amêndoas
que me fazem rir.
Dela,
tudo é vendaval.

Fisiologia



Ninguém ama,
efetivamente,
com o coração
(contrassenso anatômico).
O amor não é sangue.
O amor,
é tolerância.

Em vão



Quis um poema de amor perfeito:
absoluto engano.
A perfeição não cabe no amor.
E se coubesse,
não dava verso.

Duas horas



A cidade não se apaga nunca.
Apenas permanece, imóvel, intacta,
com jeito de menina triste.
Me revela um silêncio
que ninguém jamais ousou.
Que ninguém suporta sozinho.
A cidade é sozinha.
Sólida e muda,
mergulhada nas luzes, estática.
Intransponível.
E me desaba nos ombros a noite
que desamanhece posta,
quente e irreversível.
A noite da cidade nada quer,
nada entrega.
Apenas se recosta,
muda ao meu lado.
A cidade me conhece.

À procura



Perdi meu jeito, minha prosa,
minha trilha.
Larguei na pressa minha brasa,
minha sina, minha ilha.
Seja como queira,
rasa e sem pudor.
A alegria do poeta
é a medida da dor.

Visceral



A vida para além do amor
não merece ser vivida.
O peito para além da dor
é só carne contraída.

10 de novembro de 2009

Incontroverso (ou Da verdade que me tem)



Sou todo poesia,
tudo que me fez o tempo.
Vem ver o que te fiz aqui,
nas minhas mãos
de percorrer estrelas.
Vem ver o que é teu
e mora em mim.
Demora não.


9 de novembro de 2009

Boa noite amigo



Escrevo-lhe por nada.
Aliás, mentira minha...

Escrevo porque sinto - hoje como sempre,
um certo sentimento de desarranjo.
Em verdade, uma saudade de ter com meus amigos,
de vê-los e abraçá-los com verdadeiro afeto e alegria,
e roubar-lhes, como de praxe,
tudo aquilo que me alimenta a alma.

Embora saiba que também o sabes,
tenho por bem deitar novas linhas para dizer
do que tantas outras vezes foi dito sem palavras,
apenas com olhares, sorrisos,
gargalhadas e, por eventualidade,
algumas lágrimas.

É que hoje, mais uma vez
das incontáveis que vieram e virão,
sinto no peito o vácuo do tempo de solidão.
Não porque tenham meus amigos me esquecido,
ou porque se esmoreçam
na bruma da memória.

De fato, me sei um eterno carente de almas de luz.
Tenho a sólida certeza que,
ainda que além do alcance dos meus braços,
estão todos eles em roda e festa
no meu peito e na memória.

E apesar do silêncio,
saibam todos os meus amigos
que os carrego comigo, sempre,
com a candura e leveza
que me emprestam e que,
por necessidade,
faço de morada.

Amo-os todos,
com afinco e zelo.

3 de novembro de 2009

Diagrama



Deixo minhas horas nos teus sorrisos,
tantos e tão vivos.
Todos meus em segredo.
Traço meus planos indiscretos,
mal armados.
Rabiscos e cálculos,
tudo que sei vão.
Lanço-me ao mar como canoa
pálida e vigorosa.
Sóbrio de amor.


Tom sobre tom



De toda cor fez-se o matiz
que toca os lábios em fervura,
dança, rodopia e pula,
me amando por um triz.

E de sabor o verso veste,
tanto sal e pecado,
que mesmo o mais amado,
chora a solidão agreste.

Bem como outro novo tempo,
nas esquinas de uma outra vida,
cálido e vagaroso vento.

Bem como meu sutil tormento,
nas pétalas das margaridas,
tímido, amarelo e lento.