27 de abril de 2008

Adjetivos e cotidianos



De toda maneira,
por mais que tentem abocanhar as verdades escorregadias
com explanações e justificativas afiadas,
não se poderá evitar a manobra crônica
das engrenagens encantadoras que,
nas terças ensolaradas,
nos umidecem de emoções caseiras.


6 de abril de 2008

Mínima



Como letras postas e letras pálidas no papel.
Como o escrito desperdiçado no vazio, o escrito feito para o vazio.
Como distintas e santificadas foram outras letras,
não menos pálidas que as de agora.
Ao alto prumo de quem escreve para o acaso formal e construído,
para o contexto cheio e forçosamente emocionado,
interponho minha letra vaga.
Me furto ao mérito de fazer brotar a água dos olhos.
Cedo às amenidades sem graça e pra elas entrego meus focos.
Às amenidades fortes e presentes,
aos pormenores incontestes e palpáveis,
aos detalhes.
Miro a composição dos detalhes;
e como neles se afoga todo o resto.
E como neles é fácil encontrar tudo mais de que se compõem
as farsas e trapaças de cada dia.
(Porque é preciso falsear, é preciso esquivar e enganar,
pra não engasgar com as verdades abrasivas
que engolimos todas as manhãs.)