Escrevo-lhe por nada.
Aliás, mentira minha...
Escrevo porque sinto - hoje como sempre,
um certo sentimento de desarranjo.
Em verdade, uma saudade de ter com meus amigos,
de vê-los e abraçá-los com verdadeiro afeto e alegria,
e roubar-lhes, como de praxe,
tudo aquilo que me alimenta a alma.
Embora saiba que também o sabes,
tenho por bem deitar novas linhas para dizer
do que tantas outras vezes foi dito sem palavras,
apenas com olhares, sorrisos,
gargalhadas e, por eventualidade,
algumas lágrimas.
É que hoje, mais uma vez
das incontáveis que vieram e virão,
sinto no peito o vácuo do tempo de solidão.
Não porque tenham meus amigos me esquecido,
ou porque se esmoreçam
na bruma da memória.
De fato, me sei um eterno carente de almas de luz.
Tenho a sólida certeza que,
ainda que além do alcance dos meus braços,
estão todos eles em roda e festa
no meu peito e na memória.
E apesar do silêncio,
saibam todos os meus amigos
que os carrego comigo, sempre,
com a candura e leveza
que me emprestam e que,
por necessidade,
faço de morada.
Amo-os todos,
com afinco e zelo.