21 de novembro de 2007

Nitidez, nuances e bicicletas



O menino era novo ainda.
Descobria o mundo a cada passo, cada queda. O seu mundo.
Um mundo talvez grande às proporções da época (também suas).
Nos arranhões e machucados foi diminuindo as grandezas,
equiparando, esgotando hipóteses.
Inesgotável.

Tomou sorvete, soltou papagaio, quebrou dente, braço e espelho.
Teve azar e sorte; se apaixonou na escolinha.
Foi triste e feliz.

E cresceu como cresce todo menino.
Foi herói, foi bicho, foi medroso.
Foi Viramundo de Sabino.
Caiu algumas vezes. Várias vezes.
Curou os arranhões e machucados das mãos e joelhos,
e descobriu que eles doem menos que os arranhões da alma.
Machucou a alma alheia.
E a sua.

Brigou,
ouviu,
esperou,
tentou,
se desculpou,
se arrependeu,
se orgulhou.

Aprendeu que todo menino cresce;
cresce pra ser homem.
Cresceu homem.
E fez a barba,
descobriu a vida,
aproveitou a vida,
fez escola e trabalho.
Desconfiou da vida.

Ganhou amigos,
pegou estrada,
tomou chuva,
tomou cerveja,
perdeu amigos...

Hoje, o menino é esse.
Esse que toma menos sorvete que deveria;
que não solta mais papagaio (mas gostaria);
Percebeu que,
ainda homem, sente medo.
Ainda cai, se levanta, chora e ri.

E assim Viramundo,
assim o mundo virou.

Mas o menino que se sabe homem,
sustenta vivo no coração o velho sorriso fácil.
O sorriso que as nuvens velozes
não conseguiram carregar pra longe,
como fizeram
com os dentes-de-leite.


Um comentário:

Alessandra Guimarães disse...

Tempo...muito tempo que não passava por aqui , e vi que realmente fazia falta sentir esta calma, esta sensação doce , sempre que passo os olhos nestas letrinhas que se encaixam com perfeição!!!! Suavidade e sensibilidade sempre valem a pena!!! Bjoo gde Nin