17 de janeiro de 2008

Conto de título dispensável



Já passava das onze
quando ela se deu conta do fim do cigarro,
do calor incômodo
que subia pelos dedos estáticos.
Dedos de mulher,
que naquele junho
chegado quase que por surpresa,
refletiam uma leveza,
uma outra saudade.
Como quem faz que se levanta,
ela, num esforço mensurado e comedido,
leva ao cinzeiro já visitado,
outra réstia da companhia silenciosa
que lhe fazia sala.
Não carregava porém, nos olhos
aquela calmaria simbólica,
dos que fingem o desconforto essencial
recém causado pela partida,
pelo final,
mas uma claridade casuística
esquecida pela verdade que,
agora longe,
há algumas horas
ainda lhe tocava a nuca.
E escorria
aos cantos da boca contornada,
uma linha engraçada de perfeição,
que imprimia no rabisco feminino da face
uma vergonha interiorana,
sedutora.
Timidez que brilhava longe,
como que o próprio Deus quisesse ver,
com olhos de quem se sabe homem,
a beleza que tem
um sorriso de mulher.


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