2 de janeiro de 2008

A orquídea e o titã



Na sacada vento frio, anunciação de abril.
No abril a solidão é palpavel e densa,
e amortece o corte lento
da cidade lá embaixo.
Daqui de cima, euforia silenciosa;
luz de movimento mudo.

No abril tudo corre como cinema antigo,
cinema lento,
morfina colorida.
Passo a passo o dia escorre dum velho vinil qualquer.
Um vinil sequer.
Conjugação engatilhada no próximo copo.

No abril é sempre um tanto frio,
um tanto só.
Um noir sombreado, um olhar de fraca fixação;
branco e batom.
Desbotado nevoeiro na métrica casuística
que os sonhos escondem.

No abril de pouco cheiro,
arrastado e singular,
distoante e arredio.
Canto quieto e paralelo,
acidez e brio.

E a porta gris cerrada
em que se fecha
belo e vil,
nem com cruz nem com espada,
nenhum outro mês
abriu.


Um comentário:

Unknown disse...

lindo este texto descreve o dia de hoje aqui no lugar onde moro, frio, abril...........
abraços
cristiano